quarta-feira, 22 de julho de 2009

Muquém 2009 - "Ê Muquém 'Bafado'!!!"


"Lá bem longe, no coração dos desertos, em uma das mais remotas e despovoadas províncias do Império, existe uma das mais notáveis e concorridas dessas romarias, notável, sobretudo, se atendermos ao sítio longínquo e às enormes distâncias que os romeiros têm de percorrer para chegarem ao solitário e triste vale em que se acha erigida a capelinha de Nossa Senhora da Abadia do Muquém na província de Goiás, cerca de oitenta léguas ao norte da capital e a sete léguas da povoação de S. José de Tocantins, à margem de um pequeno córrego que tem o significativo nome de Córrego das Lágrimas. Das mais remotas paragens acodem romeiros a essa isolada capelinha para implorar à santa o alívio de seus padecimentos e trazer-lhe preciosas oferendas. Durante alguns dias do ano aquele lôbrego e escuro sítio transforma-se em uma ruidosa e festiva povoação; o Muquém é sem contestação a romaria mais concorrida e a mais em voga do interior."

Elis, Bernardo - Ermitão do Muquém, 1858


Ainda em 1858 Bernardo Élis conseguiu descrever muito bem aquele lugar muito quente, encravado em meio a uma cadeia de serras, morros e montanhas, onde o sol escalda durante o dia, e o frio impera pela noite.

Este ambiente é palco de uma das maiores romarias do Brasil (como dito pelo escritor, 'a mais concorrida e mais em voga do interior'). A romaria em honra e louvor a Nossa Senhora da Abadia do Muquém.

Todos os anos, milhares de pessoas se amontoam de 05 a 15 de agosto, pagando promessas, agradecendo graças alcançadas, realizando pedidos àquela que, por nossa formação católica, intercede por nós junto a Jesus: sua mãe, Maria.

A Igreja "Nova" (a velha foi desativada há alguns anos e hoje é um restaurante comunitário) funciona praticamente 24 horas por dia no período da festa, com Missas, celebrações diversas, adoração ao Santíssimo, confissões. Tem capacidade para cerca de 27.000 pessoas sentadas; é o maior templo do Brasil. Nas fotos a seguir dá pra ter uma idéia da fachada da igreja, assim como da área 'interna'.






A imagem de Nossa Senhora da Abadia sai de Niquelândia por volta do dia 05 de agosto, todos os anos, e segue numa caminhada (dando início à romaria) até o
muquém. Cerca de 45 quilômetros, em oração, à pé, em procissão. Na imagem ao lado vemos o altar onde é venerada a imagem de que falamos.

A origem da Romaria tem muitas versões. Acredita-se que foi um quilombo, pois
o povoado do Muquém é um espaço rodeado por morros, e por isso o local propício para construir esconderijos ou quilombos. A topografia entre montanhas permite uma visão ampla de todos os lados. A história mais contada é dos milagres religiosos acontecidos nessa época, porém é certeza que o local foi um antigo quilombo. Até pelo nome “Muquém”, cujo significado é um fogo em brasa para assar carne como os escravos usavam.


Moquém, oriundo do tupi ou nheengatu (mboka’i, moka’em mokai’e, moquê, mocahen, muquém), é técnica indígena, primitiva, - grelha alta, de varas verdes, - para assar carne, ou peixe, ou aves, sobre o lume. Utensílio com que se assa alguma coisa.

E é pra lá que se direciona a nossa próxima caminhada. Isso mesmo, eu e meu Tio Má estaremos fazendo o percurso Niquelândia-Muquém no próximo dia 08 de agosto. Planejamos fazer durante a madrugada (pois é mais fácil e saudável enfrentrar o frio da noite do que correr os riscos da desidratação durante o dia).

Claro que tanto eu quanto ele estaremos também pagando promessas e realizando nossa peregrinação de fé; mas esse 'evento' não deixa de ser mais um desafio de superação. Vamos postar o mapa (abaixo) em tamanho maior num próximo post.


Você já está convidado a ler nesse blog mais material sobre o Muquém, que estaremos postando em breve.

E termino com uma saudação que meu falecido "Vô Didico" eternizou, e que descreve tão bem quanto Bernardo Élis, o que é o Muquém; lembro claramente de vovô, romeiro a vida toda, até o ano de sua morte, gritando, feliz, como que saudando as bençãos de N. Sra. da Abadia em nossa família desde sempre:

"Ê MUQUÉM 'BAFADO'!!!"

Forte abraço,


Fernando.

domingo, 5 de julho de 2009

O Carro-de-bois

O carro de boi foi nosso principal meio de transporte no período colonial, no império e até na era republicana...
Fonte:http://www.widesoft.com.br/users/pcastro1/carrodeboi.htm#carro">










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As Madeiras

As madeiras empregadas para fabricar carros de boi são, em geral, as seguintes(5):
Mesa: sucupira, óleo vermelho (cabreúva), ipê, tabaco, garapa cipó,
jacarandá da Bahia.
Chedas: sucupira e as demais usadas na mesa.
Eixo: óleo vermelho.
Arreias: roxinho, óleo.
Tornos ou pinos: roxinho, óleo.
Fueiros: tambu, garapa, pitangueira, guamirim,calcanhar de cotia.
Cavilha: roxinho ou óleo vermelho.
Pigarro: óleo vermelho ou sucupira.
Cocões: óleo vermelho.
Chumaço: canela sebosa, leiteiro, figueira sangra dágua.
Canga: bico de pato, caviúna, sapuva(saperetê), jacarandazinho
da várzea (sapuvão) e jacarandá.
Canzil: laranjeira da mata virgem, roxinho, peroba, ipê,
laranjeira de casa, óleo pardo, pitangueira e pequiá.
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TAMANHO DAS PEÇAS DO CARRO DE BOI
Mesa: comprimento 3 metros por 1,30 de largura.
Cabeçalho: 4,5 a 5 metros.
Eixo: 1,65m de comprimento e 22 centímetros de espessura
ou 9 polegadas.
Roda: 1,20m de altura.
Fueiros: 1,20 a 1,50m de comprimento.
Nota: Estas medidas variam de acordo com os fabricantes
e o tamanho do carro.
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Glossário - As Partes do Carro de Boi

agulhamento ou rosário - pequenos botões metálicos, arredondados ou ponteagudos, colocados circularmente nas rodas, para enfeite.

ajoujo ou soga - cordão de couro cru colocado em argolas nos chifres dos bois de uma mesma parelha,para uni-los, e evitar que escapem em caso da quebra eventual de um canzil.

almofada da roda - parte central da roda, de forma quadrada, tendo uma espessura maior que o resto da roda. Tem em seu centro a amecha ou buraco da roda.

amecha ou buraco da roda - buraco na parte central da roda que é prensado na ponta da espiga do eixo da roda.Tem secção quadrada e perfil cônico. A roda é travada no eixo por meio de duas cavilhas, também cônicas.

arreia - Respiga de madeira, de secção retangular e de perfil cônico, servindo para travar partes do carro, como na roda e na mesa.

assoalho do carro ou mesa - Base do carro onde é transportada a carga. É constituida pelas chedas, cabeçalho e tábuas do assoalho.

azeiteiro - chifre de boi com tampa feita de couro, onde é guardado o azeite de mamona, utilizado para lubrificar a cantadeira. O azeite é aplicado com um pincel que fica ao lado ou dentro do azeiteiro.

braçadeira - peça de metal utilizada para travar as chedas e o cabeçalho, bem na frente da mesa.

brocha - peça feita de couro cru torcido utilizada para prender a cabeça do boi entre os canzis.

cabeçalho - peça central do carro e que une as partes constituintes da mesa. Vai da chaveta ao cadião, tendo em média de 4,5 a 5 metros de comprimento.

cadião ou recavém - prancha transversal de madeira, situada na parte traseira do carro e que une as chedas.

cambota - peça semi circular de madeira. Cada roda tem duas cambotas e um meião.

candieiro - geralmente é um menino que vai a frente do carro,conduzindo os bois da parelha de guia. É um aprendiz de carreiro.

canga de coice - peça de madeira que serve para manter a parelha de bois unidas ao carro. Esta canga é utilizada pelos bois que vão junto ao cabeçalho e que são os responsáveis por suportar o peso nas descidas íngremes e manobras do carro.

canga de guia - peça mais leve que é utilizada pelos bois encarregados de ir à frente, dirigindo os outros bois.

canga de meio - canga leve utilizadas nas parelhas que vão entre os bois de coice e de guia.

cantadeira - parte do eixo de secção circular e que fica em contato com o chumaço.Esta dupla, presa entre os cocões, é responsável pelo canto melodioso do carro de boi.

canzil - peça de madeira de perfil curvo que é colocado na canga para prender a parelha de bois. Cada canga tem 4 canzis, dois para cada boi.

carniço - tampa traseira de bambu que fecha a esteira ou canistro.

carreiro - pessoa que conduz o carro de boi carregando a vara de ferrão. Vai ao lado ou em cima do carro.

carro de boi - veículo simples para transporte de cargas agrícolas, mas que tem uma tecnologia extraordinária, advinda de muitos séculos de utilização em todo o mundo.No Brasil veio de Portugal e espalhou-se por muitos Estados, principalmente Minas Gerais e Goiás. Seu tamanho varia de acordo com o peso a ser transportado. Costuma-se falar em carro para 4, 6 ou até 10 cargueiros de milho.

cavilha, cavia ou cabia - pequena peça de secção circular ou triangular e que serve para travar peças de madeira que se unem nas várias partes do carro.

chapa de pião - aro metálico que circunda cada roda e que tem por função proteger a roda. Tem os piões, que são grandes pregos que atravessam o aro e a madeira. Com isto ajudam na tração do carro em lugares escorregadios.

chapa lisa - o mesmo aro metálico, só que sem os piões. O uso de um ou outro tipo varia de região para região.

chaveta ou chaveia - peça de metal que prende a canga da parelha de coice através do tamoeiro ao cabeçalho, impedindo seu movimento para a frente.

cheda - peças laterais de madeira que compõem a mesa do carro. As de boa qualidade são feitas de pranchas tiradas de árvores naturalmente tortas, com a curvatura necessária para a confecção da cheda, dando-lhe com isto muito maior resistência, pois a veia da madeira acompanha a curvatura da cheda.

chumaço - peça de madeira semi circular de madeira mais mole que a cantadeira e que juntas fazem o carro cantar e ringir.

cocões - peças de madeira em número de duas em cada lado da mesa e que se ajustam ao eixo do carro (nas cantadeiras), para que o carro possa ter tração

degolo oitavado - o eixo do carro é oitavado e a parte que fica entre as duas emborgueiras tem um estreitamento, que é chamado de degolo do oitavado.

eixo do carro - peça muito importante da transmissão do carro. É unido às rodas e ao mesmo tempo a mesa do carro. É uma peça única, normalmente feita de cabreúva e suas partes estão descritas no esquema número...

emborgueira ou morgueira - peça oitavada que fica de cada lado da cantadeira, cerca de três centímetros mais alta. Com isto impossilita a saída dos cocões de cima e também o deslizamento lateral.

encosto do cocão - peça de ferro colocada ao lado dos cocões e que tem por finalidade impedir que com o esforço e peso do carro os cocões se abram, prejudicando o andar e segurança do carro.

espigas ou ponta do eixo - são as duas extremidades do eixo onde as rodas são colocadas. Tem secção quadrada e perfil cônico para travar as rodas, que também tem amechas quadradas e cônicas.

esteira ou canistro - esteira de bambu com cerca de um metro de altura e que circunda a mesa do carro para o transporte de carga miúda, como milho, madeira, etc. A altura varia de acordo com o tamanho do carro.

fueiro - peças de madeira roliça com dimensão aproximada de um metro e que são colocados verticalmente ao redor da mesa para amparar a esteira ou a carga transportada.

furas das chedas - são os furos nas chedas onde são colocados os cocões.

furas dos fueiros - são os furos nas chedas onde são colocados os fueiros.

gato - peças de metal colocadas nas almofadas das rodas, transversalmente à veia da madeira para fortalecer a resistência da roda, enfraquecida pela presença da amecha.

inervação de canga - recobrimento por couro cru feito em cangas fraturadas, enfraquecidas por trincas ou até por enfeite.

meia lua - parte semicircular do cabeçalho que está em contato com o cadião.

meião - peça central da roda, de forma retangular e que junto com as duas cambotas, compõe a roda do carro.

olho, óculos ou oca - orifício situado nos limites entre o meião e a cambota e que tem por função amplificar o ringir dos cocões. Varia de forma e posição na roda de região para região. Observe que a linha que passa pelas ocas de uma roda é necessariamente perpendicular à linha que passa pelas ocas das outra roda.

orelha - peça de madeira colocada na ponta do cabeçalho logo atrás da chaveta e que tem por função impedir o deslizamento da canga para trás.

pião - prego metálico utilizado nos aros das rodas por alguns fabricantes de carro.Neste caso muitas vezes o aro não é soldado, sendo apenas superposto na emenda. Quem dá a resistência são piões.

pigarro - Suporte vertical, semelhante a um canzil que era colocado na parte dianteira do cabeçalho para que este não ficasse apoiado no chão quando os bois eram retirados do carro, ao fim do dia. Não é muito usado em Minas Gerais.

pincel - peça utilizada para espalhar o azeite de mamona na cantadeira. Fica junto ou dentro da azeiteira.

tiradeira ou cambão - peça comprida de madeira, com secção quadrada e que serve para unir uma parelha a seguinte: na parte da frente tem a chaveta e na traseira uma rabada, que é um trançado de couro para prender uma parelha à seguinte.

tamoeiro - peça de couro cru, colocado no centro da canga e que tem por função prender a canga à chaveta da tiradeira ou cabeçalho.

vara de ferrão - vara com um ferrão e argolas que o carreiro utiliza para conduzir o carro. As argolas com seu tilintar são suficientes para os bois entenderem as ordens, mas quando necessário levam umas fisgadas com o ferrão. Dizem que o bom carreiro não usa o ferro, só o barulho das argolas...